O 67º CONAD do ANDES-SN realizou-se no último final de semana em Belo Horizonte, com três dias de muitos debates e deliberações. O evento, organizado pelo SindcefetMG Seção Sindical do ANDES-SN, reuniu 300 participantes, entre delegadas, delegados, observadores, observadoras – representantes de 81 seções sindicais – e diretores e diretoras do Sindicato Nacional.
A APES enviou sua delegação aprovada na última assembleia da categoria, com observadores e um delegado, o profº Leonardo Andrada. Na entrevista abaixo, ele faz um balanço, apontando os temas mais importantes debatidos e a análise que o CONAD fez da greve docente. Logo na sequência, um resumo do que foi o evento. Acompanhe
1 – Quais pontos você destacaria como os mais importantes nos debates e deliberações do 67º CONAD?
Leonardo – Ao longo dos dias de importantes debates, pudemos tratar de questões relevantes para o avanço da luta da categoria, além de concluir os debates sobre temas que ficaram pendentes do 42º Congresso. Assim, definimos a criação de um Grupo de Trabalho que organize a luta dos setores de oposição em seções sindicais que estão fora do ANDES-SN, e que atuam para o seu retorno para o Sindicato Nacional. Essa é uma importante decisão, no que se refere às articulações para o fortalecimento do nosso sindicato. Foi relevante também o encaminhamento de ações para pressionar pela efetivação dos compromissos do governo, contidos na minuta do acordo assinado ao final da greve. Por fim, é importante destacar os encaminhamentos em termos de ações para concretizar a solidariedade internacional, com deliberações sobre Cuba, Palestina, Haiti e Senegal.
Foto – Fábio Lima
2 – Qual a avaliação política que o evento fez da greve?
Leonardo – O debate sobre a greve foi aprofundado neste CONAD, a partir da discussão de um texto de apoio que criticava a dinâmica do Comando Nacional de Greve e o papel da diretoria nesse espaço. Por esmagadora maioria de votos, o texto foi rejeitado, o que aponta uma enorme discordância com a leitura que apresentava sobre a construção, o desenvolvimento e o fim da greve. Prevaleceu o entendimento de que os esforços para a construção da greve foram pautados em uma cuidadosa análise de conjuntura, que considerava que, apesar de existirem elementos objetivos de sobra para um movimento, o mero desejo de vanguarda não é suficiente para emplacar um movimento com a força necessária para que alcance conquistas, e que tal feito dependeria de intensificar os esforços de mobilização da categoria. A partir da deflagração, o trabalho militante foi importante para que o movimento paredista crescesse ao ponto de alcançar 64 instituições, permitindo classificá-lo como um dos maiores que o setor da educação federal já construiu, inscrevendo a greve de 2024 na história.
Como balanço, foi grande a confluência de análises para o entendimento de que nossa pauta foi atendida apenas em parte. Por um lado, é importante ressaltar que não obtivemos reajuste dos vencimentos para 2024, e que mais uma vez os aposentados foram excluídos de qualquer benefício este ano. Por outro, é preciso ressaltar que, sem a greve, o governo não teria se movido para atender minimamente nossas pautas, e teríamos permanecido com um índice ainda mais rebaixado de reajuste, não teríamos avançado na reestruturação da carreira, os recursos para as instituições ficariam cada vez mais exíguos, e portarias que, penalizam os professores da carreira EBTT, permaneceriam intocadas. Para além disso, houve um importante saldo político, no sentido de quebrar a inércia de anos de refluxo do movimento docente. Reavivamos na memória do professorado a importância da mobilização e o papel do sindicato na organização, o que aproximou das seções locais um importante contingente de professores que entraram para o serviço público ao longo desses oito anos, desde o último movimento de caráter nacional. O movimento inspirou ainda as bases de seções que são controladas por direções burocrático-cartoriais, impulsionando sua luta para retornar ao âmbito do ANDES-SN, e assim fortalecer uma entidade legítima que representa de fato a categoria. Por fim, é digno de nota que foi possível construir uma grande greve nacional da educação federal, em uma luta que articulou as três entidades representativas dos trabalhadores desse setor: ANDES-SN, FASUBRA e SINASEFE.
Com chamado à luta antirracista e defesa da natureza, o 67º Conad do ANDES-SN teve seu início na sexta-feira
Com o show “Mãe de mim”, de Carol Cordeiro e participação de Jardel Rodrim, teve início o 67º Conad do ANDES-SN, na manhã de sexta-feira (26), em Belo Horizonte (MG).
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Cerca de 300 participantes, entre diretoras e diretores do ANDES-SN, representantes das seções sindicais e pessoas convidadas, acompanharam a plenária de abertura. A mesa foi composta por representantes da diretoria nacional do ANDES-SN, do Sindcefet/MG SSind, do Cefet, da UNE, da Fenet, do Sinasefe, da Fasubra, do MST, do MAM, do Grêmio Livre Estudantil, do Sind-UTE/MG e da Ascefet MG.
As diversas falas das convidadas e dos convidados ressaltaram a importância da luta em defesa da educação pública, gratuita e socialmente referenciada e do papel do ANDES-SN nessa disputa. A recente greve das instituições federais e as suas conquistas também foram destacadas nas falas, que fizeram ainda um importante chamado para a intensificação da luta contra o projeto do Novo Ensino Médio, aprovado pelo Congresso Nacional e para barrar a militarização das escolas, que se expande nos estados como projeto da extrema direita no país.
67º Conad: docentes atualizam análise de conjuntura após greves das Federais e de Estaduais
As guerras, o genocídio do povo palestino em Gaza, a ascensão da extrema direita no mundo, a militarização da vida, das escolas e dos territórios, a crise socioambiental, com a destruição de vidas humanas e não-humanas como reflexo da crise do Capital foram alguns dos temas comuns apontados pelas análises de conjuntura apresentadas na plenária do Tema 1, na tarde de sexta-feira, no primeiro dia do 67º Conad do ANDES-SN. Os debates tiveram início com a apresentação de seis dos sete textos de conjuntura enviados ao Caderno do Conad. Na sequência, foram abertas inscrições e garantidas as falas de vinte e quatro participantes.
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
A necessidade de enfrentar os ataques do Capital com unidade na luta entre as e os docentes, e também com as demais categorias da classe trabalhadora, também foi consenso em muitas das intervenções. Foi reforçada, ainda, a importância da reorganização da classe trabalhadora para construir um projeto capaz de derrotar a ascensão da extrema direita, intensificar a mobilização contra a retirada de direitos e contra o avanço das pautas conservadoras no Congresso Nacional.
As divergências despontaram, principalmente, na análise da greve da Educação Federal, de seu desfecho e dos avanços garantidos pela luta da categoria docente. Ainda assim, a maioria das manifestações apontou que um dos principais ganhos da greve foi político, com a adesão de várias instituições ao movimento paredista, inclusive de universidades com base da Proifes, entidade cartorial que foi derrotada em quase todos os locais com representação.
67º Conad aprova resoluções de apoio à Palestina e outras pendências do 42º Congresso
Dando continuidade aos trabalhos do 67º Conad, delegadas e delegados aprovaram, na noite de sábado (27), os textos de resolução remetidos pelo 42º Congresso, realizado em Fortaleza (CE), em fevereiro deste ano. As deliberações compõem o Plano Geral de Lutas do ANDES-SN. As votações foram concluídas na manhã de domingo (28), último dia do evento, que ocorreu no Cefet/MG, em Belo Horizonte (MG).
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Antes do início da Plenária do Tema II, docentes do Coletivo “Negras e Negros do ANDES-SN” realizaram um ato. Entoando o canto “Povo Negro unido, povo negro forte, que não teme a luta, que não teme a morte”, o grupo de cerca de 30 professores e professoras entraram no auditório, carregando cartazes com palavras de ordem contra o racismo.
Após greves, docentes atualizam plano de lutas dos Setores das Iees/Imes/Ides e Ifes durante 67º Conad
As e os mais de 300 participantes do 67º Conad se dedicaram, na manhã de domingo (28), à atualização do plano de lutas dos Setores das Instituições Estaduais, Municipais e Distrital de Ensino Superior (Iees/Imes/Ides) e das Federais. As deliberações tiveram como base a avaliação das greves que ocorreram tanto em diversas instituições estaduais quanto no setor das Federais.
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Entre 2023 e 2024, 16 universidades estaduais realizaram greves por melhores salários, carreiras, condições de trabalho, concurso público e recomposição orçamentária, entre outras reivindicações. E, no primeiro semestre de 2024, após deliberação do 42º Congresso, as instituições da base do Setor das Ifes fizeram 74 dias de greve, que trouxe conquistas para a categoria docente, além de fortalecer politicamente a entidade.
As atividades da tarde de domingo (28) foram iniciadas com uma apresentação de piano a quatro mãos, com a professora Fabiana Sousa, do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), e André Pédico, docente do Cefet/MG. Com a retomada dos debates, os e as delegadas aprovaram a inversão das plenárias temáticas, para deliberar sobre as contas da entidade, uma das principais funções do 67º Conad. E também garantir a aprovação da sede do próximo Conad e discussão sobre como organizar as bases onde há oposições ao ANDES-SN.
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
As delegadas e os delegados do Conad aprovaram, por unanimidade, as contas do ANDES-SN apresentadas pela diretoria nacional referentes ao exercício de 2023, à previsão orçamentária de 2025 e à apresentação de contas do 42º Congresso. Em relação a prestação de contas do ano passado, foi encaminhado que a diretoria do ANDES-SN apresente uma nota interpretativa da prestação de contas, com destaque para as rubricas contribuições diversas; e despesas diversas.
Docentes atualizam plano geral de lutas do ANDES-SN durante o 67º Conad
No último dia de deliberações do 67º Conad do ANDES-SN, 79 delegadas, delegades e delegados aprofundaram o debate e aprovaram diversas resoluções referentes às políticas de Formação Sindical, Educacional, de Classe para as Questões Étnico-Raciais, de Gênero e Diversidade Sexual, de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria, de Verbas, de Multicampia e Fronteira, Agrária, Urbana e Ambiental, Comunicação e Arte e sobre História do Movimento Docente.
Com aprovação de moções e leitura da Carta de BH, termina o 67º Conad
A plenária de encerramento do 67º Conad do ANDES-SN teve início na noite de domingo (28),
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Moções
Foram aprovadas 14 moções apresentadas pela diretoria do Sindicato Nacional, por seções sindicais e por docentes da base. Entre vários temas abordados nos textos, as e os participantes manifestaram repúdio à privatização de Instituições de Saúde da rede pública do estado do Rio de Janeiro e apoio à luta em defesa do povo palestino em Belo Horizonte, diante da lei municipal que visa criminalizar ações de solidariedade à Palestina. Cobraram, ainda, a suspensão do convênio entre a Universidade Estadual de Campinas e o Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), firmado em 2023.
Manifestaram pesar pela morte dos professores Fabiano Fortes e Felipe Turchetto, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), assassinados em um assalto durante uma viagem de campo com estudantes. E também expressaram solidariedade à Universidade Nacional das Mães da Praça de Maio (UNMa), na Argentina.
No dia 25 de julho, o governo de Javier Milei nomeou um interventor federal na UNMa, o que expressa mais um ataque à memória, aos direitos humanos e à educação na Argentina. De acordo com a moção aprovada, essa nomeação, além de ser uma afronta à autonomia da universidade, abre um precedente perigoso para as demais universidades públicas argentinas.
Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Carta de BH
Francieli Rebelatto fez a leitura da Carta de Belo Horizonte, que traz uma síntese dos debates e deliberações dos três dias do 67º Conad, que teve como tema central “Fortalecer o ANDES-SN na luta por orçamento público, salário e em defesa da natureza”.
“A luta pela terra, pela vida, pela natureza em sua plena capacidade de seguir produzindo para atender os interesses de nossa classe pode ser uma síntese de tantas lutas em curso e que nosso sindicato tem compromisso de fortalecer”, afirmou a secretária-geral do Sindicato Nacional.
“Convocamos, ao final desta carta, os versos da poeta palestina Heba Abu Nada, que publicou em suas redes no dia 08 de outubro de 2023: “A noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios, assustadora, exceto pela garantia das súplicas”. Seus versos foram silenciados quando a poeta foi assassinada sob bombardeio na Faixa de Gaza no dia 20 de outubro de 2023. Que não naturalizemos por um momento sequer esse estado de coisas, o silenciamento da poesia e o grito daquelas(es) que lutam pela construção de uma outra sociabilidade. Palestina Livre do Rio ao Mar. Pelo fim do genocídio já! Fora Zema e suas políticas neoliberais! Sou docente, sou radical: sou contra a violência racial!”, conclamou a diretora do Sindicato Nacional, ao encerrar a leitura do documento.