Diante da retomada do aumento da contaminação por Covid 19 no Brasil e no mundo, derivada da disseminação da variante Ômicron, a APES foi conversar novamente com o professor Helder Antônio da Silva, que faz parte da equipe de pesquisadores do Laboratório de Biologia da Conservação do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Barbacena. A equipe é formada por pesquisadores de diferentes instituições brasileiras que se reuniram desde 19 de março de 2020 com o intuito de acompanhar a evolução e a dispersão do vírus SARS-CoV-2. Veja abaixo a entrevista.
1 – Desde que a equipe vem acompanhando a Covid na região da Zona da Mata, o que se pode dizer do momento que estamos vivendo? Em que ponto estamos nessa pandemia? Qual foi o impacto da vacinação?
Estamos passando por mais um momento difícil da pandemia na região da Zona da Mata devido ao aumento do número de casos confirmados e impactando agora a ocupação dos leitos de UTI. Infelizmente, espera-se ainda para daqui uma ou duas semanas o atingimento dos limites máximos de internações nas UTI. É semelhante ao que ocorreu no ano de 2021; a diferença é que o número de casos confirmados é maior e o número de óbitos ainda não está muito elevado. A ômicron é extremamente mais transmissível e vem atingindo mais as crianças.
Em relação às vacinas, elas estão impedindo a elevação do número de óbitos e ainda restringindo as internações em UTI; sendo já constados em alguns estudos e relatórios hospitalares que os casos de internações em UTI e óbitos são de pessoas que infelizmente não tiveram o esquema vacinal completo. Ou seja, não se vacinaram, ou receberam apenas uma dose da vacina. É importante ressaltar que as vacinas não impedem as pessoas de se infectar, mas impede a evolução da doença para casos graves; daí a importância de se vacinar, principalmente as crianças neste momento.
2 – O que dizer da volta às aulas presenciais em escolas e universidades em todo o país, no momento?
Como a ômicron é mais transmissível, a volta às aulas presenciais em escolas e universidades não é recomendável, pois irá elevar ainda mais o número de casos confirmados e irá impactar os serviços de saúde, principalmente a ocupação dos leitos de UTI. Ao observar o que ocorreu nos países da Europa e na África do Sul, percebe-se uma elevação abrupta do número de casos, atingindo o pico em torno de três semanas e na sequência caindo também rapidamente. Então, é recomendável, aguardar um pouco mais para a volta às aulas presenciais.
3 – Há controvérsias, em muitos meios, sobre a variante Ômicron, de que ela tem transmissibilidade maior, mas seria, por assim dizer, mais fraca, menos mortal e que mostra, na verdade, o declínio da força da Covid. No entanto, vemos aumento de internações e de óbitos. O que há de verdade nisso tudo?
O que há de verdade em relação à variante ômicron é que as vacinas estão de fato protegendo a população, não deixando que ocorra a evolução da doença para estágios mais graves. O ciclo de vida dessa variante do vírus é um tanto menor que o de outras cepas; mas isso não significa que ela é mais fraca e que a COVID-19 está perdendo força no momento. O que está sendo constatado por estudos e relatórios hospitalares é que a ômicron é mortal também, principalmente para pessoas que não completaram o esquema vacinal.
4 – A maior capacidade de transmissão da Ômicron pode ser contida pelo uso de máscaras, álcool e todo o conjunto de ações que vinham sendo colocadas em prática contra as outras variantes?
Sim, no caso das máscaras, recomenda-se a utilização da PFF2 ou N95, pois esses modelos de máscaras se encaixam no rosto sem deixar frestas, sendo mais adequadas que as máscaras de tecido. Em situações específicas, de maior fluxo de pessoas, é recomendado a utilização também do face shild. Sempre que possível, lavar as mãos com sabão e/ou utilizar o álcool 70%, de preferência em gel. Ou seja, todo o conjunto de ações que vinham sendo recomendadas, deve ser seguido para a variante ômicron.
5 – Existe uma desconfiança na população de que novas mutações virão, isso é possível?
Sim é possível que novas variantes possam surgir, pois é natural ocorrer mutações nos vírus, como ocorre com o vírus da gripe, por exemplo. O fato de a variante ômicron ser mais transmissível traz o grande risco de surgimento de nova variante que poderá ser mais letal, pois poderá reduzir a eficácia das vacinas pelo fato de driblar o sistema imunológico, uma vez que a nova mutação pode trazer para o vírus alterações específicas, que facilitaria a sua replicação no organismo. Portanto, quanto mais o vírus se replicar, devido à elevação de contágio, maior o risco do surgimento de nova linhagem de vírus mais mortal que venha ultrapassar as barreiras imunológicas conferidas pelas vacinas. Daí a importância de se manter o distanciamento físico e seguir as recomendações de proteção individual.