Como atividade da Semana da Consciência Negra, a APES realizou nesta quinta-feira, 21 de novembro, a mesa “Sou Docente Antirracista: a luta dentro das instituições”, com participação da professora Carolina Bezerra, docente do Colégio de Aplicação João XXIII e mediação do diretor da APES, professor Leonardo Pina.
Carolina Bezerra foi diretora de Ações Afirmativas da UFJF, é integrante do GRUPES – Grupo de Pesquisa Saberes da Resistência Negra e Indígena e do GENI – Gênero e Interdisciplinaridade.
Em sua fala, Carolina trouxe elementos biográficos de sua formação política e educacional, destacando aspectos das formas classificatórias e de pertencimento das classes populares e seu contato com o marxismo.
Em seguida, Carolina Bezerra apresentou um histórico da constituição do racismo nas instituições de educação e pesquisa no Brasil, que consolidou um sistema de educação que distingue a formação das elites e da classe trabalhadora. Essa diferença funcionou e ainda funciona como um instrumento de controle dos corpos, determinando quais deles podem e quais não podem ocupar determinados espaços sociais. Carolina apresentou diversos tipos de materiais institucionais e midiáticos que reforçam tal ideologia.
Carolina chamou a atenção para a presença do intelectual congolês Kabengele Munanga no corpo docente da USP, permanecendo, de sua entrada até sua aposentadora, como o único docente negro do programa de Antropologia da instituição. Além da longa e solitária permanência, evidenciando a falta de acesso de pessoas negras às instituições, Carolina também mencionou a dificuldade da produção acadêmica em acompanhar as mudanças nas dinâmicas, pensamentos e vocabulários antirracistas, já incorporados muito mais rapidamente pelos jovens, por exemplo, nas redes sociais. A despeito dessa dificuldade, Carolina apresentou um pouco do rico debate teórico protagonizado por diversos intelectuais negros e negras, como Sueli Carneiro, Cida Bento, Muniz Sodré, Sílvio Almeida e Petrônio Domingues, que contribuíram para o desenvolvimento da noção de racismo institucional, do abordagem interseccional (que engloba a interseção dos preconceitos de classe, raça e gêneros) e do conceito de “branquitude”.
Em sua experiência como pedagoga, Carolina Bezerra destacou a presença do racismo no espaço escolar, relatando experiências identificadas por ela e relatadas por estudantes, os quais passam, agora, a tomar consciência de tais violências diante da exposição de casos na mídia e por personalidades, como o jogador Vini Jr. Citou, neste momento, o trabalho artístico do estudante da UFJF e ex-aluno do Colégio João XXIII, Preto Vivo, reforçando a importância do papel de professores e professoras em uma educação antirracista – que precisa ser também, segundo Carolina, antimachista e anticapitalista.
Em diálogo com a base da APES, que realizou comentários e perguntas direcionadas à Carolina, a professora defendeu o papel do sindicato nesta luta, destacando a importância da ação coletiva para uma verdadeira transformação social.