Dois de setembro de 2018 vai ficar marcado como o dia em que a cultura do Brasil perdeu uma de suas maiores e mais antigas fontes históricas. Por volta das 19h um incêndio se alastrou pelo Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista – Rio de Janeiro, instituição que em 2018 comemorou 200 anos e acabou por ter sua construção e, maior parte de seus 20 milhões de artefatos, destruídos pelo fogo.
A APES considera o episódio como um triste sintoma do descaso, da falta de investimentos, de apoio e da irresponsável contenção de recursos por parte do governo federal. “Um dia triste para a cultura, para o conhecimento, para a história e para todos nós que lutamos pela educação. Uma evidência do desrespeito com nosso passado e um retrato do descompromisso social do governo golpista”, disse Rubens Luiz Rodrigues, presidente da APES.
Além de ter sido o lar do rei D. João VI, fundador do museu, e sua família, Carlota Joaquina, e os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, o prédio abrigava relíquias únicas conquistadas nestes dois séculos de história. Entre elas, o mais antigo fóssil humano do país, encontrado em Minas Gerais e batizado de “Luzia”, a maior coleção egípcia da América Latina, a maior e mais importante coleção indígena, documentos raros da história do país, entre outras perdas.
Museu Nacional queima – Foto Folha Press
Tragédia anunciada
A situação de descaso com o patrimônio já era conhecida publicamente há pelo menos três anos, quando o museu começou a sofrer com escassez de recursos e inviabilidade de reformas. Entre greves, fechamentos e visitações suspensas, foi preciso recorrer a uma ‘vaquinha’ na internet para arrecadar fundos para reabrir uma de suas sessões. Nas redes sociais, a indignação é geral, com muitos internautas denunciando o descaso do governo com a cultura nacional.
Luís Fernando Dias Duarte, um dos vice-diretores do Museu Nacional, declarou que há anos a equipe luta para conseguir recursos e que nenhuma autoridade nem mesmo esteve presente na comemoração do bicentenário do museu.
ANDES divulga nota de protesto
Em nota, a diretoria do ANDES-SN convocou professores para um ato em defesa da educação pública, nesta segunda, com o objetivo de reforçar a necessidade de uma luta organizada em defesa dos investimentos nas áreas de Ciência, Tecnologia, Educação e Cultura. A manifestação se deu às 9h no Museu Nacional e às 16h na Cinelândia.
Acompanhe a nota:
Nota da diretoria do ANDES-SN sobre o incêndio do Museu Nacional (RJ)
O ANDES-SN, convoca todo(a)s o(a)s professore(a)s para estarem presentes no ato em defesa da educação pública, dia 3 de setembro (segunda-feira), às 9h no Museu Nacional e às 16h na Cinelândia.
Uma tragédia anunciada acomete neste exato momento um dos principais redutos da Ciência, das Artes e da Tecnologia no Brasil. Um incêndio consome o Museu Nacional, que longe de ser um acidente, marca como as ações do poder público têm se desdobrado nos últimos anos para com o patrimônio simbolizado e edificado nesta unidade da UFRJ.
Assim, o ANDES-SN vem a público denunciar o descaso para com as diversas manifestações dos curadore(a)s, pesquisadore(a)s e demais interessado(a)s sobre a manutenção e conservação do Museu Nacional. Entidade interligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, suas denúncias referentes às negligências por parte do poder público federal revelam o descaso para com parte da história da ciência, das artes e da tecnologia no Brasil. Espaço que até então celebrava seus 200 anos em meio à ausência de investimento, resistia por conta do labor de professore(a)s, pesquisadore(a)s, aluno(a)s e amigo(a)s que viam no Museu Nacional um dos embriões da necessidade de compreender a ciência e a tecnologia no Brasil como vetores de desenvolvimento e justiça social. Incalculáveis elementos referenciais nas mais diversas áreas do saber estão sendo incinerados num momento em que estamos prestes a vivenciar o que há de mais nefasto na vida social brasileira: a Emenda Constitucional 95/2016.
Em meio a um cenário de lamentos e de indignação, reiteramos a necessidade da luta organizada para denunciar a ausência de investimentos na área de Ciência e Tecnologia, bem como de Educação e Cultura. O Museu Nacional não foge a este chamado, sendo fundamental que sua comunidade científica, ainda que abalada pela lástima ocorrida, lidere o processo de denúncia do descaso para com este espaço fundamental de ciência, tecnologia, arte, cultura e educação, referência na América Latina. Somos solidário(a)s e estaremos ombro a ombro na luta pela defesa deste espaço, acreditando que a restauração de sua estrutura celebre a repactuação da Ciência, da Tecnologia, da Educação e das Artes como vetores de combate à dependência tecnológica, bem como ao combate à pobreza e à miséria que assolam nossa nação.
“Criminosa negligência”
O professor de filosofia da UFAM, José Alcimar de Oliveira,da base do ANDES-SN classificou o ocorrido como “uma materialização infame da ideologia do fim da história, num espetáculo de lesa-memória perpetrada pelo Estado brasileiro, que relega à mais criminosa negligência a educação, a pesquisa científica, os bens culturais, o cultivo e o cuidado de seu patrimônio histórico.”