Nota de uma morte anunciada

A história se repete!
Novamente, choramos e revoltamo-nos:
Direitos Humanos e Justiça são para quem neste país?
Em 24/05, foram assassinados nossos companheiros, José
Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assentados
no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna – PA. Os
dois foram emboscados no meio da estrada por pistoleiros, executados com
tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada e levada pelos seus
assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”. Camponeses
e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria
do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo
UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto
coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta.
Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG
fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável
no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta
preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de
óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No
projeto de assentamento vive aproximadamente 500 famílias. A denúncia das
ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro
e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e
carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve
proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio
e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva
agroextrativista. Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A
história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a
construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados
covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e
FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA. ATÉ QUANDO?
Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e
corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude
brutal?
Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se
incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as
autoridades tratando como se o aqui fosse distante?
Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com
restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os
corruptos sejam nossos lideres?
Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de
sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele
não existe?
Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha
também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?
Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda
temos que conviver com a barbárie?
Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças
camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos
grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO
BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento
Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal
– E COBRAMOS JUSTIÇA! ESTAMOS EM VÍGILIA!!! “Aos nossos mortos nenhum
minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.” Marabá-PA, 24 de Maio
de 2011. Universidade Federal do Pará/ Coordenação do Campus de Marabá;
Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA; Curso de Licenciatura
Plena em Educação do Campo; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra –
MST/ Pará; Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura
– FETAGRI/Sudeste do Pará; Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará; Movimento dos Atingidos por
Barragens – MAB; Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá; Via
Campesina – Pará; Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e
Sudeste do Pará.