Confira entrevista com Sabrina Ferretti (IF Sudeste MG)
O Travessia, publicação trimestral da APES, traz em sua edição de Julho o especial Vida, trabalho e invisibilidades, para abordar os desafios do trabalho docente para as mulheres durante a pandemia. A matéria publicada na editoria de Cultura do jornal sintetiza a atual condição das docentes, num cenário que conjuga desigualdade de gênero, descaso com a educação pública e um governo genocida. Para traçar um painel das atuais condições das professoras durante este contexto, entrevistamos Amanda Moreira, Dina Faria, Renata Domingues e Sabrina Ferretti, docentes das redes federal, municipal e estadual de ensino, sobre os impactos do ensino remoto e da pandemia em suas vidas e dinâmicas de trabalho.
Confira a seguir a entrevista com a professora Sabrina Ferretti, professora do Núcleo Design do IF Sudeste MG, campus Juiz de Fora.
APES: Na condição de mulher, mãe (se for o caso) e professora, como você tem vivenciado a experiência da pandemia?
Sabrina: O período da pandemia tem sido desafiador para todos, mas em especial para as mulheres. Vivemos uma jornada tripla, quádrupla e com a pandemia tudo se intensificou. O ambiente doméstico se tornou palco de todas estas jornadas. Aos poucos fui conseguindo me organizar em meio ao caos e criar uma rotina que busca separar minhas funções de professora, mãe, dona de casa, esposa e mulher (o que inclui minhas necessidades pessoais). Porém, o mais difícil continua sendo viver num momento de incertezas, onde tememos pela saúde coletiva, pela nossa vida, pela vida de todos.
APES: Pesquisas apontam que houve, na pandemia, intensificação, uberização e youtuberização do trabalho docente. Como esta precarização generalizada é vivenciada pela mulher docente?
Sabrina: Junto ao processo de nos adaptar à uma nova rotina, onde todas as coisas acontecem no mesmo ambiente, dentro de casa, surgiram também novas funções e atribuições. É bastante desanimador ver a figura docente cada vez mais desvalorizada no discurso e nas ações de muitos. Ser professor vai muito além de estar em sala de aula, envolve todo um trabalho árduo de estudos, preparação de conteúdo, correções etc, para dizer o mínimo. Com a pandemia esse trabalho “de bastidores” aumentou em grande escala. Realizar a troca e a interação necessárias para a construção do conhecimento, em meio à nova realidade imposta pela pandemia, chegar até o aluno, tem sido muito difícil e muitas vezes frustrante.
3 – Como você analisa as pressões sofridas por instituições e docentes ao retorno presencial das atividades escolares, no atual momento da pandemia?
Todos estamos emocionalmente abalados e esgotados. Acredito que o retorno presencial das atividades escolares requer a promoção de segurança para todos os atores envolvidos neste retorno. Estrutura, equipamentos, adequações dos ambientes de ensino, treinamento e informação de qualidade, e vacina. Um retorno inseguro significa colocar em risco não só a vida e saúde física dos discentes e profissionais da educação, mas também a saúde mental e psicóloga de todos, que já está tão abalada.