1 – Como mulher, mãe e pesquisadora, como você tem vivenciado a experiência do confinamento, diante dos desafios que o isolamento social nos colocou?
Considero o isolamento social importante para preservar a saúde do maior número de pessoas e evitar a sobrecarga do sistema de saúde. Entretanto, como todas as pessoas, estamos desconfortáveis, tendo em vista que a rotina mudou muito e estamos em contínuo processo de adaptação. O transitório perturba, mas muitas vezes produz boas mudanças. Tenho dois filhos, um de 6 e outro de 9 anos, e estou aproveitando o tempo com eles para vivenciarmos momentos que a correria do dia a dia não permite. Os desafios da maternidade aumentaram com o confinamento, pois perdemos todo o suporte dos avós, das ajudantes, da escola e das atividades extras das crianças. Em condições normais, aproveitamos estes momentos de ajuda para exercer nossas atividades profissionais. A sobrecarga de atividades aumentou consideravelmente, contudo o desafio faz com que aprendamos a nos organizar, gerenciar melhor as demandas e priorizar as tarefas.
2 – É possível se adaptar à ausência de divisão de espaços de trabalho, aprendizado dos filhos, dentro de casa, considerando que também tem suas próprias demandas?
Está muito difícil essa fase de transição. Executar as demandas de acordo com o que é possível fazer. O fracasso serve como aprendizado para formular novas estratégias e tentativas de se atingir os objetivos.
3- Como lidar com as inúmeras jornadas de trabalho, já comuns no cotidiano feminino, tendo em vista que estas podem se tornar cada vez maiores, por se concentrarem em um mesmo espaço?
A paciência e persistência são necessárias para todos no momento.
4- É possível dar continuidade aos trabalhos acadêmicos, durante o período de isolamento social?
A continuidade aos trabalhos acadêmicos é possível, mas não com a mesma qualidade e quantidade. A qualidade exige tempo para preparação dos materiais didáticos e da infraestrutura presente na instituição. Há sobrecarga de atividades em casa, com demandas cotidianas que eram exercidas por outros profissionais e alguns docentes possuem acesso limitado à internet. Entretanto, considero que os alunos precisam de algumas atividades, desde leituras complementares até vídeos relacionados aos conteúdos, para poder superar com menor trauma a vivência do isolamento social. As instituições de ensino precisarão rever a proibição de ensino a distância, para fins de diminuir o prejuízo do processo de ensino-aprendizagem. É importante aperfeiçoar a metodologia do ensino não presencial e assegurar que os alunos carentes terão acesso ao material das aulas postados na internet.
5 – Se tem algo que não foi perguntado e que você gostaria de dizer em relação a esta temática, fique a vontade! Para acrescentar algum comentário ou deixar uma mensagem final.
As dificuldades impostas pelo necessário isolamento social devem ser superadas com o emprego de novas metodologias e estratégias de ação, de maneira responsável. A título de exemplo, se diversos alunos podem não possuir computadores, os materiais didáticos devem ser formulados para leitura em telas de celulares. Se o acesso a internet é limitado, faz-se necessário buscar operadoras para viabilizar condições adequadas de acesso para as aulas disponibilizadas. Infelizmente, a falta de superação desses limites acarretará ainda mais problemas aos discentes.