UFJF realiza testes de diagnósticos de COVID-19 – confira entrevista com prof. Lyderson Viccini (ICB)

Nesta conversa da série Pandemia e Política, conversamos com o diretor do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, professor Lyderson Viccini, sobre a realização dos testes de diagnósticos de Covid-19 que estão sendo realizados em laboratórios da UFJF. Na conversa, o professor fala sobre as contribuições e desafios dessa importante iniciativa. Confira:


1 – Foi anunciada no dia 15/04 um convênio entre a Universidade Federal de Juiz de Fora e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) nos esforços de combate ao coronavírus. Como está se dando essa parceria e em quais âmbitos do combate à COVID-19 essa parceria acontecerá?

Tenho conhecimento de várias ações que envolvem a campanha de vacinação, a produção de álcool em gel, a distribuição de máscaras e o diagnóstico da Covid 19. Pessoalmente, estou mais envolvido com a questão do diagnóstico e posso responder mais diretamente por ela. Neste caso, deverá ser estabelecido um fluxo de envio de amostras de pacientes da rede pública (UBS, HPS, HU) para serem analisadas nos Laboratórios da UFJF. As prioridades são definidas por equipe técnica.

2 – Quais unidades e segmentos da comunidade acadêmica estão envolvidos na ação?

Os laboratórios disponíveis e devidamente inspecionados pela Vigilância Sanitária para fins de diagnóstico estão localizados no Instituto de Ciências Biológicas e na Faculdade de Farmácia. A Faculdade de Medicina tem contribuído no diálogo entre a UFJF e a PJF para o estabelecimento do fluxo de amostras a serem colhidas e analisadas. O ICE desenvolveu um sistema para cadastro de exames e emissão de laudos.

No diagnóstico, estão envolvidos inicialmente docentes e TAEs, mas estudantes de pós-graduação poderão também participar de acordo com a demanda.

3 – Considerando que a universidade não trabalha com testes rápidos e que a produção é limitada à capacidade operacional dos laboratórios disponíveis, como se dá a dinâmica de produção e aplicação dos testes?

É importante deixar claro que a UFJF não está produzindo testes, mas realizando os mesmos por meio de insumos adquiridos.

Uma vez que as amostras são colhidas nos serviços de saúde do município, elas são entregues em um dos dois laboratórios mencionados de acordo com uma escala prévia. As amostras passam por um processo de inativação (tornar o vírus inerte), extração de RNA, preparo da reação e leitura em um equipamento conhecido como PCR em Tempo Real. É um método quantitativo e qualitativo que permite detectar partículas virais (material genético) nas amostras dos pacientes.

4 – Na relação com a prefeitura e órgãos de saúde municipais, qual o papel do ICB na aplicação dos testes? Quais são os critérios estabelecidos para se eleger as prioridades na aplicação? E como ela funciona?

Como mencionado, as amostras são direcionadas pelos serviços de saúde do município para a UFJF. Tanto o ICB quanto a Faculdade de Farmácia recebem as amostras e realizam os testes. As prioridades deverão ser estabelecidas pela PJF e por uma equipe técnica.

5 – Nesse período, onde o papel das instituições públicas fica mais evidente, qual a importância dessa parceria da Universidade Federal com a Prefeitura?

Acho que é uma grande oportunidade da Universidade Pública mostrar que, além de formar recursos humanos qualificados (ensino), produzir conhecimento (pesquisa e pós-graduação) e interagir com a sociedade por meio de projetos de extensão, ela está pronta para contribuir com o município e com o país. Pelo Brasil inteiro tem sido possível observar a contribuição das universidades e institutos de pesquisa. São essas instituições que, associadas ao sistema público de saúde, têm dado sustentação às políticas de combate à Covid 19. No caso de Juiz de Fora em específico, são várias ações: produção de álcool em gel, produção de máscaras, utilização de modelos computacionais/estatísticos para traçar o perfil epidemiológico da doença, produção de sabão em barra, o diagnóstico da doença por meio de testes moleculares e a doação de kits de higiene e máscaras para a população, entre outros. A universidade possui estrutura física e recursos humanos de alto nível e está pronta a cumprir seu papel.

6 – Quais são as principais fontes de recursos para a compra de insumos e equipamentos para a ação?

Para o diagnóstico, todos os insumos foram adquiridos com recursos da UFJF. Para outras ações há também a contribuição da iniciativa privada.

7 – Frente ao contingenciamento e aos cortes orçamentários que as Universidades Federais vêm sofrendo ao longo dos últimos anos, quais têm sido as maiores dificuldades na efetivação de ações de combate ao COVID-19 nesse período?

Apesar dos cortes, o planejamento adequado tem permitido que as Universidades façam o seu papel numa demonstração de compromisso com a sociedade e com o bem-estar das pessoas. Obviamente, infraestrutura e recursos financeiros para a compra dos insumos constituem os principais limitadores. A UFJF em particular está fazendo seu “dever de casa” mas os recursos são finitos e há risco de que algumas atividades sejam interrompidas a depender da demanda e do orçamento disponível.

8 – Para além das ações que já foram anunciadas e entrarão em curso, existe mais alguma ação em planejamento?

Que seja do meu conhecimento teremos a produção de sabonete líquido em breve. Aguarda-se a chegada de insumos.